In the shadow..

29.6.16



Escrevo este texto aqui. Rodeada de verde, o vento traz-me o perfume das flores e ao fundo só ouço os passarinhos, um esquilo a saltar de árvore em árvore, um riacho que corre por perto, grilos, e os meus filhos a jogar ping-pong com paus e um bugalho enquanto discutem ruidosamente sobre quem está a ganhar. Tudo sons da natureza, portanto. 
É aqui que me encontram quando estou ansiosa. Hoje, dia em que escrevo este texto, estou ansiosa. Aqui é o mais perto de um refúgio-paraíso para mim e aqui eles entretêm-se, com paus, pedras, água do riacho e os animais.
É uma fase de stress. Faz parte, eu sei. Mas não sei lidar com stress, e não tenho de gostar. Prazos que não são cumpridos. Promessas secas. Oportunidades que se perdem. Medo do futuro. Incertezas. Riscos que se correm. Tudo normal, eu sei. E não se desiste, não sou de desistir. Continuo nas reuniões, nas deslocações, nos jogos de cintura, na negociação. Mas faço isso tudo com suores frios, mãos sem sensibilidade e com formigueiro, boca seca, coração acelerado, pernas a tremer e sem força. E convenhamos é tudo muito, muito mais difícil assim. Quem me dera ter mais sangue frio. Mas não tenho. É assim. Há coisas que temos de aceitar e trabalhar á volta do que somos e do que temos. Há momentos que me vou abaixo, normalmente quando estou sozinha. Tudo fica negro, é o fim do mundo como o conhecemos. Choro, tenho ali um momento de "ai que pena de mim mesma", mas depois passa. Levanto-me e lá vou eu outra vez. Não desistir. Tenho esta facilidade de ver o lado menos bom e até de ver o mau que ás vezes nem existe, e tenho esta dificuldade em ver o caminho que já fiz e o que já conquistei. Mas tendo consciência desta minha característica, é mais fácil fazer o exercício de a contrariar. Ás vezes consigo, outra não. Mais uma vez, tudo normal. 
A verdade é que devagar, e ás vezes muito devagarinho, vou fazendo o meu caminho. Há vantagens e desvantagens em ser devagar. Mas é o meu jeito. 
As noites são complicadas. Muitos sonhos e pesadelos. Muitas sem dormir. Depois de jantar muitas são as vezes em que o ar parece que não chega ao fundo dos pulmões e quanto mais difícil é, mais ar eu quero que entre e quanto mais me esforço menos ar entra e por ai a fora até o pânico se instalar. O pânico chega, e eu inicio o diálogo que aprendi na terapia. 
"- Olá pânico, estás aqui? ok.. és chato como o caraças, mas tudo bem. Vamos conviver."
Deixo-o vir. Sereno. Aceito. Deixo o coração bater com a força que quiser. "Já sei o que é isto. E SEI que vai passar."
A partir do momento que aceito, as coisas melhoram. Pode demorar minutos ou pode demorar horas. E nada disto é fácil. 
Ajuda tentar desviar a atenção para o ar que não entra e para o coração que bate como louco. O importante é estarmos presentes. Fazer um esforço para nos concentrarmos no presente, e não no que virá. 
Serei capaz? O que vai acontecer? Porque o meu coração bate assim? Será ataque cardíaco? Terei alguma doença? Vou desmaiar? etc, etc, etc e todas essas perguntas que passam pela cabeça de um ansioso. O que é pessoal mistura-se com o profissional, até todas as questões e problemas estarem na cabeça que nem bolo mármore. Tudo entrelaçado. 
O que imaginamos é, muitas vezes pior do que a realidade. E quase sempre temos a força para resolver o que vai surgindo. 
Não sei como vai correr. Quando chegar a hora, resolvo. Sei que sou capaz. 


















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Sofia Almeida

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2 comentários:

  1. "Diabo de condição" que nos calhou! Por aqui o mesmo... há precisamente 45min...Ainda sinto dormência nos membros...
    ouço-a por aqui e estou por aqui...
    ����

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    1. <3.. não é fácil e só quem passa por "isto" sabe o que é.
      Aguenta mais um bocadinho. Tudo vai passar. :) beijinho de força.

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